A cada dois anos recebemos a convocação para o voto compulsório e o que deveria ser um direito, torna-se, para grande parte da população, um aborrecimento. O que se ouve nas conversas, o que se lê nas redes sociais, é que não há boas opções, que todos os políticos são corruptos e que o voto não muda nada. Eu discordo do primeiro e concordo, em parte. do segundo. Em primeiro lugar, nem todo político é corrupto. É serio. Se todos, sem exceção, só estivessem interessados em aumentar o próprio patrimônio, a situação do país estaria ainda pior (sim, é possível piorar). O saque generalizado e ilimitado dos cofres públicos só não acontece por causa de cidadãos honrados que cumprem a obrigação de defender a sociedade. Sendo pressionados o tempo todo por colegas para ingressar nas mamatas. Sendo, muitas vezes, questionados por conhecidos por não terem enriquecido com a política e, até mesmo, tendo a sua segurança e de suas famílias ameaçada por acusarem falcatruas. Sim, eles estão lá. No senado, no congresso, nas câmaras, nas prefeituras e etc. Mas… Aí que entra a dificuldade de se mudar algo pelo voto. Pelo menos, da forma que é o processo eleitoral atual e da maneira em que as pessoas estão votando hoje em dia.
O processo eleitoral atual é falho e não vou entrar nem no mérito da possibilidade de fraude das urnas eletrônicas. A maior falha do nosso processo, é que ele foi feito para manter quem já tem o poder no poder. A começar pela forma de arrecadação das campanhas políticas. Todos nós sabemos, que contratos com o governo rendem milhões e milhões para empresas e estas, por sua vez, doam milhões e milhões para os partidos (até para opostos simultaneamente), sabendo que mais a frente terão o retorno na forma de mais contratos e da ausência de fiscalização. Explicando em bom português: empresa não doa pra campanhas, faz investimento. E dos bem lucrativos. Seguindo esse raciocínio, quanto mais corruptíveis os candidatos e os partidos, mais verba pra gastar com propaganda eles tem. Adiciona-se a isso a proporcionalidade no horário eleitoral (quanto mais político eleito no senado e nas câmaras, maior o tempo do partido na tv e no rádio) e temos o sistema do mais do mesmo em todas as eleições. E é o mais do pior que existe na política brasileira.
Até aqui, eu apontei algumas falhas no sistema eleitoral brasileiro. Algo que não é tão fácil de mudar, já que quem poderia efetuar uma reforma política não tem o menor interesse por ser favorecido em deixar as coisas como estão. Mas, existem falhas, tão graves quanto as do processo democrático nacional, que pouca gente gosta de mencionar. Porque diz respeito a nós, eleitores. Se a cada vez que alguém repete que os políticos são ladrões, se a cada postagem em rede social sobre falta de opção de candidato, essas mesmas pessoas usassem os mecanismos de busca da Internet para pesquisar políticos ficha limpa, aos poucos a mudança positiva ocorreria.
Há dez, quinze anos atrás, a permanência dos maus políticos teria uma explicação. Maus políticos tem mais dinheiro para distribuir panfletos, botar placas e bandeiras pela cidade, pagar muitos cabos eleitorais e comprar votos. Maus políticos também fazem parte de grandes partidos (claro que existem bons politicos nos partidos maiores, mas pessoas interessadas apenas em poder e dinheiro vão para onde o poder já está estabelecido e o dinheiro entra com mais facilidade) e tem mais tempo de propaganda gratuita. E quase a totalidade das pessoas só tinha conhecimento sobre os candidatos dessas formas. Eis que surge a revolução digital. A Internet está cada vez mais acessível e há muita informação disponível na distância de um clique. E o que mudou? Pouca coisa. As pessoas continuam achando que só podem votar nos candidatos que estão na política há décadas. Nas figuras que já estão ou estiveram no poder. Gente que tem um passado de escândalos e má administração. O povo quer mudança, mas permanece agindo do mesmo jeito que nas eleições passadas. Não dá pra querer um resultado diferente fazendo tudo igual. Essa falha é nossa. Nós que colocamos os bandidos no poder. E eles vão continuar lá enquanto nós permitirmos.
Passo nº 1 para um país melhor: não venda, troque ou negocie o seu voto.
Passo nº 2: Pesquise sobre os candidatos.
Passo nº 3: Lembre-se de em quem votou. E o porquê de ter votado. Isso é muito importante para o passo nº4.
Passo nº 4: Acompanhe os atos do seu candidato após o mesmo ser eleito. Veja se as ações dele são coerentes com os motivos pelos quais você votou nele.
Passo nº 5: Igual ao passo nº2. Pesquise, pesquise e pesquise. Continue se informando. A ignorância do povo é o melhor aliado dos maus políticos.
Não são passos complicados, nem muito trabalhosos, mas fazem a diferença. E se quisermos ir mais adiante, podemos cobrar dos nossos candidatos que cumpram as promessas feitas em campanha.
Eleição não muda o país. O que muda o país são os eleitores.