Militâncias

Padrão

Dias se passaram
Palavras perdidas
Em comentários não lidos
Em redes anti sociais

Dias se passaram
Em páginas em branco
Em posts não escritos
Textos que não nasceram

Dias se passaram
Em um universo dividido
Onde todos são contra tudo
E ninguém se une a favor nada

Dias se passaram
E nestes dias que ainda passam
É difícil falar à mente
É difícil falar à alma
Todos gritam
Ninguém se escuta

Democracia, ditadura e uma mentalidade estacionada há 50 anos atrás

Padrão

Há poucos dias da chamada celebração da democracia, me questiono se existem tantos motivos para comemorar. Ok, a Ditadura Militar se encerrou décadas atrás e as eleições são diretas. Mas… será que a ditadura ficou mesmo no passado? Acho que não. Os modos escusos de se fazer política continuam, como ainda estão presentes e, com influência significativa, personagens ligados à essa fase obscura de nossas história. Também mantemos uma estrutura policial militar que não só traz dessa época suas práticas, como tem em sua raiz a repressão política e a contenção dos negros e pobres da extinta Guarda Real. Ainda nos é cerceado o livre direito de expressar coletivamente o descontentamento com alguma questão. Ainda há um abismo dividindo os mais ricos dos mais pobres. As pessoas ainda se separam politicamente utilizando expressões como “reacionários” e “comunistas”. Boa parte da população ainda acredita que ou somos EUA ou somos Cuba. Ainda consideram que existam os homens de bem, defensores da boa moral, dos bons costumes e da família tradicional e que tudo o que não se enquadra neste padrão é coisa de comunista (eles de novo), feminista que odeia homem, drogado, gay, sapatão, aborteira, prostituta, ateu, macumbeiro satanista, anarquista, bandido e etc. E que, toda ação pelos direitos humanos e pelos direitos civis igualitários fazem parte de uma conspiração para invadir lares, destruir famílias, corromper as crianças e transformar o país numa versão tupiniquim da URSS.

Conforme a cartilha dos que se auto proclamam como cidadãos de bem:

Aos comunistas e anarquistas: tortura, sumiço ou exílio. Aos gays: uma surra ou o confinamento em algum lugar longe de seus olhos sensíveis. Aos drogados da classe alta: tratamento, aos da classe baixa: prisão. Às sapatões e feministas: um macho que as façam submissas e lhes encham de filhos. Às mulheres que abortam: a morte lenta e vergonhosa. Aos ateus e macumbeiros: a conversão. Aos criminosos da classe alta: um abraço (é amigo. Se não for, pode ser), aos da classe baixa: a pena de morte.

E assim, marchará a Família com Deus pela Liberdade. Só não entendo pela liberdade de quem.

Para o meu espanto, são tantos os que preferem que o destino do Brasil retorne aos punhos duros das forças armadas, que eu não consigo entender a lógica (ou falta dela) desses tais cidadãos de bem. Talvez, eles conheçam a limitação de suas mentes a ponto de desejar não escolher. Dentro da minha lógica, torço pelo voto facultativo, para que eles tenham, assim, o seu desejo de não escolher atendido e seja mantido o direito dos que querem escolher. E torço mais ainda que, além de não escolher, eles também não sejam mais escolhidos, já que não compreendem o significado da democracia plena. De qualquer forma, a votação que se aproxima é uma celebração com ressalvas do exercício democrático. Por isso não posso deixar de constatar que o período da ditadura acabou, mas ainda tem raízes fincadas no nosso cotidiano e, principalmente, na mentalidade de uma parte considerável do povo brasileiro.

O Grande Circo

Padrão

A tenda está armada. Os artistas de terno e gravata, ou de blazer, ou de tailleur… (tanto faz) já estão no centro do picadeiro. Luzes e microfones. Flashes e câmeras.

E começa o espetáculo.

Ao final, aplausos decidirão qual deles será o chefe do Grande Circo. Aquele com o poder de escolher de que maneira nós,  os palhaços na plateia, seremos jogados aos leões.

Vamos falar de política?

Padrão

A cada dois anos recebemos a convocação para o voto compulsório e o que deveria ser um direito, torna-se, para grande parte da população, um aborrecimento. O que se ouve nas conversas, o que se lê nas redes sociais,  é que não há boas opções, que todos os políticos são corruptos e que o voto não muda nada. Eu discordo do primeiro e concordo,  em parte.  do segundo.  Em primeiro lugar,  nem todo político é corrupto. É serio. Se todos, sem exceção, só estivessem interessados em aumentar o próprio patrimônio, a situação do país estaria ainda pior (sim, é possível piorar). O saque generalizado e ilimitado dos cofres públicos só não acontece por causa de cidadãos honrados que cumprem a obrigação de defender a sociedade.  Sendo pressionados o tempo todo por colegas para ingressar nas mamatas. Sendo, muitas vezes, questionados por  conhecidos por não terem enriquecido com a política e, até mesmo, tendo a sua segurança e de suas famílias ameaçada por acusarem falcatruas. Sim, eles estão lá.  No senado, no congresso,  nas câmaras,  nas prefeituras e etc. Mas… Aí que entra a dificuldade de se mudar algo pelo voto. Pelo menos, da forma que é o processo eleitoral atual e da maneira em que as pessoas estão votando hoje em dia.

O processo eleitoral atual é falho e não vou entrar nem no mérito da possibilidade de fraude das urnas eletrônicas. A maior falha do nosso processo,  é que ele foi feito para manter quem já tem o poder no poder. A começar pela forma de arrecadação das campanhas políticas.  Todos nós sabemos,  que contratos com o governo rendem milhões e milhões para empresas e estas, por sua vez, doam milhões e milhões para os partidos (até para opostos simultaneamente), sabendo que mais a frente terão o retorno na forma de mais contratos e da ausência de fiscalização. Explicando em bom português: empresa não doa pra campanhas, faz investimento. E dos bem lucrativos. Seguindo esse raciocínio,  quanto mais corruptíveis os candidatos e os partidos, mais verba pra gastar com propaganda eles tem. Adiciona-se a isso a proporcionalidade no horário eleitoral (quanto mais político eleito no senado e nas câmaras, maior o tempo do partido na tv e no rádio) e temos o sistema do mais do mesmo em todas as eleições. E é o mais do pior que existe na política brasileira.

Até aqui, eu apontei algumas falhas no sistema eleitoral brasileiro. Algo que não é tão fácil de mudar,  já que quem poderia efetuar uma reforma política não tem o menor interesse por ser favorecido em deixar as coisas como estão. Mas, existem falhas, tão graves quanto as do processo democrático nacional, que pouca gente gosta de mencionar. Porque diz respeito a nós,  eleitores.  Se a cada vez que alguém repete que os políticos são ladrões,  se a cada postagem em rede social sobre falta de opção de candidato,  essas mesmas pessoas usassem os mecanismos de busca da Internet para pesquisar políticos ficha limpa, aos poucos a mudança positiva ocorreria.

Há dez, quinze anos atrás,  a permanência dos maus políticos teria uma explicação.  Maus políticos tem mais dinheiro para distribuir panfletos, botar placas e bandeiras pela cidade, pagar muitos cabos eleitorais e comprar votos. Maus políticos também fazem parte de grandes partidos (claro que existem bons politicos nos partidos maiores, mas pessoas interessadas apenas em poder e dinheiro vão para onde o poder já está estabelecido e o dinheiro entra com mais facilidade) e tem mais tempo de propaganda gratuita. E quase a totalidade das pessoas só tinha conhecimento sobre os candidatos dessas formas. Eis que surge a revolução digital.  A Internet está cada vez mais acessível e há muita informação disponível na distância de um clique.  E o que mudou? Pouca coisa. As pessoas continuam achando que só podem votar nos candidatos que estão na política há décadas. Nas figuras que já estão ou estiveram no poder. Gente que tem um passado de escândalos e má administração.  O povo quer mudança,  mas permanece agindo do mesmo jeito que nas eleições passadas.  Não dá pra querer um resultado diferente fazendo tudo igual. Essa falha é nossa.  Nós que colocamos os bandidos no poder. E eles vão continuar lá enquanto nós permitirmos.

Passo nº 1 para um país melhor: não venda, troque ou negocie o seu voto.

Passo nº 2: Pesquise sobre os candidatos.

Passo nº 3: Lembre-se de em quem votou. E o porquê de ter votado. Isso é muito importante para o passo nº4.

Passo nº 4: Acompanhe os atos do seu candidato após o mesmo ser eleito.  Veja se as ações dele são coerentes com os motivos pelos quais você votou nele.

Passo nº 5: Igual ao passo nº2. Pesquise,  pesquise e pesquise. Continue se informando. A ignorância do povo é o melhor aliado dos maus políticos.

Não são passos complicados,  nem muito trabalhosos, mas fazem a diferença. E se quisermos ir mais adiante,  podemos cobrar  dos nossos candidatos que cumpram as promessas feitas em campanha.

Eleição não muda o país.  O que muda o país são os eleitores.